Este é um momento de muitas perguntas e poucas respostas. Difícil saber o que está por vir. A única certeza é que o momento exige reação (e adaptação) rápida para encarar o futuro. Para saber como as empresas estão trabalhando nesse momento e quais suas expectativas para a pós-pandemia, fiz as seguintes perguntas a cinco importantes CEOs brasileiros: como ter uma liderança forte em tempos de home office? Quais habilidades serão mais exigidas e valorizadas a partir de agora nas empresas? Qual será o novo jeito de trabalhar trazido pela pandemia? Quais as boas descobertas desse período?
Confira o que eles responderam:
Ana Karina Dias – CEO DO BANCO BMG
Estamos todos fisicamente distantes, mas mais conectados do que nunca. Para que os projetos andem e novas ideias surjam, a comunicação transparente com colaboradores é ainda mais relevante. pudemos identificar ainda mais os grandes talentos e ideias inovadoras em nossa própria base de colaboradores. A capacidade de adaptação do time do Banco BMG foi impressionante.
Este novo momento valorizará ainda mais a interação social, emocional, a criatividade, o raciocínio lógico e o uso otimizado da tecnologia. E o profissional solidário, empático e com capacidade de se manter centrado será, com certeza, mais bem valorizado.
As barreiras psicológicas que impediam ou atrasavam as novas formas de trabalhar, como o modelo home office, foram simplesmente quebradas. Ele funciona bem e será mantido. E será uma escolha e não uma imposição de nossa parte.
Eliane Siviero – CEO da Lanxess
A liderança forte é aquela que inspira e une a equipe para os melhores resultados corporativos. Pode ser exercida tanto física quanto remotamente com a mesma intensidade. O líder deve continuar delegando, sem “delargar”. Focar na produtividade e no resultado de cada um e exercer ainda mais a empatia para entender melhor o colaborador.
Para a sobrevivência corporativa nesse mundo V.U.C.A. (Volátil, incerto, complexo e ambíguo), o senso de dono e o olhar atento para a digitalização e a comunicação assertiva serão fundamentais.
Será valorizado o profissional com inteligência emocional aliada à resiliência, capaz de gerir suas próprias emoções, solucionar conflitos e convencer a organização. Em outras palavras, aquele profissional, que convicto sobre determinado assunto, não desiste perante o primeiro “não”, pelo contrário, convence, resolve conflitos interpessoais e traz a equipe e seus pares para perto de si, unindo a todos em prol da execução do interesse corporativo.
Fábio Fonseca – CEO da Poyry
Essa pandemia foi um “experimento forçado” que nos mostrou que quando empoderamos efetivamente as equipes, os resultados são surpreendentes. A produtividade cresceu sensivelmente. O trabalho remoto mostrou-se algo possível, mas é certo que não substituirá 100% o olho no olho na mesma sala e as dicas intrínsecas da linguagem corporal.
Uma vez escutei de um colaborador que uma das maiores disrupções da empresa foi quando em um dia da década de 90 chegaram à empresa e haviam substituído todas as pranchetas de desenho por computadores. Isto forçou todos a se adaptarem rapidamente e acredito que de uma outra forma, vivemos isto hoje.
Eu gosto da frase que diz que uma boa crise nunca pode ser desperdiçada e estamos aproveitando o máximo de todas as oportunidades para melhorarmos. Da minha parte, ainda tenho tido a oportunidade de estar mais próximo da minha família, compartilhar todas as refeições com eles e acompanhar o desenvolvimento dos meus filhos.
Fernanda Carbonari – Country Manager da Blackhawk Network
Durante a quarentena, foi necessário acolher as pessoas, transmitir segurança e de segurar pressões internas por previsão de resultado. E foi surpreendente perceber que nossa comunicação ficou mais assertiva e nosso olhar, mais generoso.
Ao contrário do que poderíamos pensar, a produtividade aumentou, o que mostra que a presença no escritório não precisará ser tão constante, mas não acredito que o home office fará os escritórios desaparecerem. Estar com as pessoas permite troca de experiências e momentos divertidos.
Cada vez mais nosso negócio vai precisar de pessoas que não sofrem com mudança constante, que sabem exercer autonomia e que navegam bem em cenários incertos. Eu particularmente gosto dos curiosos: aqueles que têm um olhar sempre fora do negócio, procuram por coisas novas ou fazem as perguntas incômodas.
Filipe Bartholomeu – CEO da AlmapBBDO
Estamos vivendo a era da revolução criativa, porque a criatividade vem de três palavras: vulnerabilidade (a palavra que melhor define o que estamos vivendo); coragem (para arriscar, fazer diferente, apostar no original) e cultura. Este momento é certamente uma oportunidade de reinvenção.
O home office e a flexibilidade vieram para ficar e irão ressignificar os espaços físicos das empresas. Fomos forçados, como sociedade, a acelerar transformações que estavam na pauta há muitos anos. O grande do novo modelo será preservar a cultura. Para que isso não aconteça, os líderes deverão estar ainda mais alinhados ao propósito de suas organizações.
Minha visão é que as lideranças que colocarem as pessoas em primeiro lugar sairão fortalecidas, afinal, esta é, antes de mais nada, uma crise humanitária.
Ruy Shyosawa Ruy – CEO do Great Place to Work
Nunca o papel da liderança se mostrou tão relevante. O líder necessário para este momento, não é o super-herói com poderes sobre humanos, mas aquele que inspira, cria ambiente de confiança e colaboração.
A INSPIRAÇÃO é importante porque as pessoas não estão buscando apenas um emprego, mas um significado para suas vidas; aglutinar as pessoas em torno de propósito, valores e objetivos comuns é o ponto de partida.
A CONFIANÇA é fundamental para desenvolver uma comunicação muito aberta e transparente, por mais difícil que seja a situação e por piores que sejam as perspectivas.
A COLABORAÇÃO é valiosa para estimular o trabalho em equipe e não a competição. Em vez do “salve-se quem puder”, é preciso estimular o trabalho em equipe para permitir que todos se salvem e não apenas alguns privilegiados.