80% dos profissionais afirmam lidar com ao menos uma pessoa difícil no ambiente de trabalho

Você provavelmente já teve interface com alguma pessoa “difícil” no trabalho. Segundo a pesquisa realizada pela ResumeLab em 2022, 80% dos respondentes dizem que tem pelo menos um colega de trabalho considerado “terrível”, sendo que para 83% isso impactou negativamente no próprio desempenho. Além disso, a pesquisa “The Price of Incivility” de Harvard Business Review mostra que a baixa qualidade nas relações de trabalho pode ocasionar em quedas consideráveis na performance, falta de criatividade ou inovação, descomprometimento, aumento de estresse e impacto negativo na saúde física e mental.

Mas já parou para pensar o que torna alguém “difícil”?

Durante minha participação no SXSW 2023, maior festival de inovação do mundo, me chamou atenção a palestra ministrada por Amy Gallo, autora do livro “Getting Along: How to Work with Difficult People”. A apresentação levantou importantes reflexões: geralmente os outros que são intitulados como “difíceis de se lidar”, podem também ser nós mesmos. Essa autoavaliação pode fazer toda a diferença na forma como os relacionamentos são conduzidos.

Amy Gallo destaca que o difícil é relativo. Com exceção de casos de assédio e condutas tóxicas que devem ser notificados para a devida intervenção, as percepções cotidianas dos colegas de trabalho podem ser enviesadas por opiniões individuais e pela nossa própria perspectiva. É preciso ponderar se o que o incomoda no outro está ligado a algo que conflita nossos interesses ou traz uma perspectiva que não estamos tão acostumados.

Discordar, no entanto, não é algo necessariamente ruim. Perspectivas diferentes trazem novas contribuições e devem ser consideradas com integridade e respeito. Empresas são formadas por pessoas com histórias, pensamentos, repertórios e comportamentos diferentes que somente funcionam em sinergia quando a cultura organizacional, em seu conjunto de valores, crenças, normas e comportamentos, reconhece essa pluralidade e mantém uma comunicação aberta entre os colaboradores.

Vale ressaltar que a cultura da empresa também está relacionada ao clima organizacional, ou seja, como os indivíduos se sentem em relação ao ambiente de trabalho. Ter uma gestão que se preocupa com a qualidade de vida do seu público interno faz toda a diferença em um contexto no qual o Brasil é o segundo país com mais casos de burnout no mundo, de acordo com dados da International Stress Management Association (Isma).

Embora não exista a necessidade de “forçar” amizades com colegas, o bom relacionamento profissional já contribui para a prevenção dos sintomas de estresse e esgotamento corporativo. Portanto, listei seis insights proporcionados pelo painel do SXSW sobre como desconstruir os problemas interpessoais no trabalho: 

Desenvolva sua autoconsciência

Você também pode ser uma pessoa difícil na ótica de outra pessoa, do mesmo modo que o que incomoda no outro pode ser um espelho da sua própria conduta. Com isso, busque por feedbacks honestos sobre como você se comporta no dia a dia e o impacto que tem nos demais. Identifique seus limites, se respeite também a fim de antecipar provocações e evitar reações extremas, as quais você pode se arrepender no instante seguinte. Esse processo de autoconsciência e autoconhecimento também faz parte da administração da inteligência emocional, fundamental para o fortalecimento da carreira.

Entenda o outro lado

Tente compreender em qual posição o seu colega se encontra no momento. Fatores pessoais ou situações de pressão no trabalho podem estar interferindo em seus comportamentos. Nesses momentos, a escuta deve ser praticada para evitar conflitos desnecessários e encontrar melhores formas de resolver as pendências, o que muitas vezes exige que opiniões sejam deixadas de lado em um primeiro momento. Por outro lado, caso a situação perdure, resta aceitar que você não pode controlar o comportamento dos outros e que as ações não devem ser levadas para o lado pessoal.

Trabalhe com trocas, não “guerras”

Não veja o seu colega como “inimigo”. Mesmo diante de desavenças, é preciso oferecer diálogos que permitam alinhar os pontos de vista e encontrar soluções para o trabalho em conjunto. Tentar prejudicar o outro ou rejeitar trocas podem tanto prejudicar a produtividade do trabalho quanto gerar mais estresse no dia a dia.

Evite fofocar sobre os colegas

A fofoca pode parecer uma “maneira fácil” de promover a interação entre os profissionais, mas é preciso se atentar para o motivo que leva a isso. É para acolher o próprio ego? Atacar algum colega em específico? Há algum benefício nisso? Embora aparentemente inofensivas, fofocas podem construir um ambiente hostil que dificulta reconciliações e até mesmo o exercício da autoconsciência.

Aperfeiçoe suas soft skills

“As pessoas são contratadas pelas suas habilidades técnicas, mas são demitidas pelos seus comportamentos”. A famosa frase de Peter Drucker traz uma realidade ainda mais evidente com a priorização atual das chamadas soft skills, habilidades comportamentais com grande influência em como o profissional se relaciona com os outros e lida com as próprias emoções. Alguns dos principais exemplos são empatia, comunicação, adaptação e liderança.

Embarque nessa jornada de autodesenvolvimento

Reconhecer o que precisa mudar nas relações de trabalho é um grande passo para que a ideia de “pessoa difícil” deixe de tirar seu sono. O comprometimento com si mesmo é a palavra-chave para quem pretende embarcar nessa jornada de transformação em busca de melhores relacionamentos do trabalho e na vida.

*Por Maria Eduarda Silveira, sócia-fundadora da BOLD HRO, consultoria de recrutamento especializado e desenvolvimento organizacional.

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