Como escritórios jurídicos podem incentivar o bem-estar dos seus colaboradores

Cada vez mais os escritórios jurídicos se mostram preocupados em profissionalizar a governança e preparar os líderes para uma boa gestão do negócio e, nos tempos atuais, pensar no bem estar dos colaboradores faz parte deste pacote. Além de ser essencial para qualquer indivíduo, este tópico tem se tornando um aspecto-chave na atração, retenção e engajamento de talentos.

Os escritórios ainda carregam a fama das longas jornadas e de ambientes que nem sempre exercem boas práticas de gestão. Esse estigma, por vezes, faz com que profissionais de diversas gerações não se interessem pelos processos seletivos nestas organizações. Ou seja, em um mercado que compete pelos melhores talentos, será que estamos investindo de fato no principal motor do negócio, nas pessoas?

Já é fato que os profissionais não estão em busca de soluções apenas transacionais para suas carreiras. Os fatores desafio, ambiente, cultura e liderança são fortemente avaliados, tanto para deixarem seus empregos quanto para aceitarem uma nova oferta de trabalho. Temos visto em nossas salas de entrevistas uma movimentação de profissionais, especialmente de áreas como M&A, Mercado de Capitais e outras transacionais, que não querem mais construir suas trajetórias em escritórios. Isso significa que estas áreas têm enfrentado mais dificuldade para contratar.

É importante ressaltar que o mercado jurídico é um mercado exigente e que os profissionais dessa área atuam com assuntos sensíveis, que demandam alta carga de responsabilidade e que envolvem, muitas vezes, questões urgentes. O trabalho como prestador de serviços por si só é desafiador e, quando falamos do ambiente jurídico, outras camadas são acrescidas, como o trato de assuntos complexos que exigem atenção, cuidado e sigilo, prazos curtos e altas demandas, características que tendem a gerar certa pressão.

Neste ponto, vale ressaltar que, quando falamos sobre qualidade de vida, não necessariamente me refiro a ações comumente vistas em outros mercados, como short friday, semana de quatro dias ou outras deste tipo. Aqui, me refiro a uma rotina na qual a pessoa não precise responder e-mails de madrugada, que não seja julgado por não viver trabalho 24 horas por dia ou possa jantar com a família em casa, por exemplo. São premissas básicas que toda pessoa presa em ter. Sabemos que, estando nestas áreas, horas extras acontecerão devido às características de operação. Porém, quando isso vira uma rotina e não uma exceção, as chances de um desgaste psicológico são grandes.

Falamos de áreas que são de extrema relevância para os negócios e, por isso, a importância de cuidar para que se tenha talentos, de modo que a área funcione com sustentabilidade. Um turnover acima da média, por exemplo, impacta diretamente o relacionamento com o cliente, o histórico da operação e dificulta o estabelecimento de laços de confiança que impactam, inclusive, o próprio negócio.

O bem-estar deve ser estimulado. Isso não significa que nunca haverá pressão, mas de forma que ela não se torne tóxica e, para que seja efetivo, precisa ser pensado em contexto individualizado. Abaixo, deixo alguns direcionamentos que podem ajudar na reflexão sobre este assunto:

–        Defina a cultura do escritório: cultura são os comportamentos que são admitidos dentro da sua estrutura. É aceito, por exemplo, que um líder grite com liderados ou que pessoas gritem umas com as outras? Possíveis preconceitos são aceitos dentro da sua estrutura? O bem-estar está relacionado também pela qualidade dos relacionamentos dentro dos ambientes;

–        Estabeleça um sistema de avaliação adequado: a forma como o escritório avalia o desempenho e os critérios que fazem com que promova os funcionários também pode ditar o comportamento das pessoas. Note se apenas questões técnicas são valorizadas ou quais comportamentos a empresa está endossando.

–        Seja factível na projeção de metas anuais: ponderar a projeção e o planejamento das metas do time para o ano é fundamental para fechar a conta de um ambiente sustentável. Com uma meta demasiadamente agressiva para um time enxuto, claramente a equipe ficará sobrecarregada. É até possível que aguentem algumas semanas, mas em pouco tempo todos estarão estafados e no limite.

–        Verifique o tipo de benefícios e experiências proporcionados: avaliar o que é tabu ou não dentro de um escritório e compreender como falam sobre assuntos mais sensíveis e que espaço há para isso também é importante.

Olhar para esses aspectos é um ótimo pontapé para estabelecer verdadeiros balizadores de bem-estar. Cada vez mais vejo que os candidatos aceitam negociar remuneração e benefícios porque optam pelo bem estar e qualidade da relação de trabalho, pois esta, sim, é uma tendência instalada. Agora resta a escolha: sair na frente ou resistir.

*Por Maria Eduarda Silveira, CEO da consultoria de recrutamento especializado e desenvolvimento organizacional, BOLD HRO

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